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BOLA CHEIA: Tese de doutorado de professora paraense sobre expressões do futebol é inédita no Brasil
26/08/2017 00:30 em Notícias

 

Mais de 1300 fraseologismos foram identificados em 4 anos de pesquisa em jornais de cinco estados

 

“Bola na gaveta”; “carimbar o travessão”; “gol chorado”; “pimba na gorduchinha”; “bola murcha”. É comum jogadores, técnicos e até repórteres esportivos repetirem essas frases nas coberturas dos campeonatos pelo Brasil. E o torcedor acaba agregando para si, essa “linguagem futebolística”. Foi pensando nisso que a professora da Universidade Federal do Pará, Carlene Ferreira Nunes Salvador, depois de uma conversa com o seu orientador em sociolinguística, compôs a interessante tese de doutorado, intitulada “Fraseologismos do futebol brasileiro: proposta de um dicionário eletrônico”.

 

A professora conta que apesar de ser um tema que já foi exaustivamente tratado por outras áreas de conhecimento, como Antropologia e Sociologia, ela percebeu que o trabalho em Linguística, sobre fraseologia do futebol, ainda não havia sido feito. “Eu decidi elaborar um dicionário cujo público-alvo seria tanto o acadêmico quanto o público em geral, utilizando métodos e critérios sistemáticos para a catalogação dessas expressões que estão na boca do povo”, enfatizou.

 

Foram quatro anos de pesquisa usando como fonte as notícias de campeonatos brasileiros das séries B, C e D, publicadas em cadernos de esportes de jornais populares de cinco estados, entre os anos de 2008 e 2015. Meia Hora – Rio de Janeiro, O Massa – Bahia, Diário Gaúcho – Rio Grande do Sul, Daqui – Goiás e Amazônia – Pará. A teste de doutorado é um trabalho de base linguística, inédito no Brasil, e foi defendido por ela, em abril deste ano.

 

A pesquisa de 2.674 textos jornalísticos gerou mais de um milhão de palavras. O resultado foi a listagem de 1.316 fraseologismos que agora fazem parte de um dicionário eletrônico semi-ilustrado, que deve ser disponibilizado ao público em breve.

 

Carlene conta que identificou a troca contínua de expressões entre o domínio do futebol e a língua comum. “Fraseologismos como: dar bola/dar atenção, pisar na bola/cometer um erro, tirar o time de campo/desistir de algo, são próprias do futebol e que devido a sua cristalização são utilizadas nas diversas esferas sociais com sentido alterado”. E o processo inverso também ocorre com as expressões da língua comum absorvidas pelo futebol, tais como: bater o martelo/contratar um jogador, rifar a bola/referente a leilão, batalha campal/campo bélico.

 

A lista traz ainda expressões curiosas como ‘bola pro mato que o jogo é de campeonato’, ‘romper o véu da noiva’, ‘bota água no chopp’, ‘ir para o chuveiro mais cedo’, entre outros.

 

Carlene também conseguiu identificar fraseologismos diferentes para um mesmo tema, de acordo com a região. É o caso das definições para árbitro. No jornal Amazônia (Belém), por exemplo, a expressão muito usada foi “homem do apito”, já no Diário Gaúcho (Porto Alegre) é comum usar ‘homem de presto’ e nos outros jornais aparecem muito ‘árbitro central’ e ‘árbitro principal’.

 

A professora conta que o próximo passo é dar prosseguimento a pesquisa e ampliar o dicionário eletrônico com Pós-Doutorado. Natural de Jacundá, no sudeste do Pará, Carlene Salvador estudou no Núcleo Urbano de Carajás, em Parauapebas, e há 20 anos mora em Belém. Ela é professora da Secretaria Estadual de Educação e atua como professora colaboradora no Programa de Formação de Professores-Parfor da Universidade Rural da Amazônia-Ufra e pesquisadora-integrante dos projetos GeoLinTerm e AliB.

 

 

A pesquisa foi financiada com apoio da agência de fomento da Fapespa/Pa.

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