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“Até traficante está migrando para a extração de madeira”, diz delegado da PF
16/10/2021 06:28 em Notícias
Divulgação da revista Política Democrática online da FUNDAÇÃO ASTROJILDO PEREIRA
 
Alexandre Saraiva dá entrevista à revista Política Democrática e comenta sobre os esquemas de grilagem, garimpo e desmatamento na Amazônia brasileira

A extração ilegal de madeira é um dos motores da destruição ambiental na Amazônia por conta dos altos lucros dos desmatadores. O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, ex-superintendente do órgão na região, alerta que, por isso, já há traficantes de drogas saindo do ramo e indo para a retirada (ilegal) e venda de madeira.

Saraiva foi exonerado do cargo de superintendente em abril passado, após enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por obstrução de investigação, advocacia administrativa e organização criminosa.

Em entrevista à revista Política Democrática online de outubro, editada pela Fundação Astrojildo Pereira, Saraiva - um dos pioneiros das delegacias de crimes ambientais no país - comenta os problemas enfrentados pela Amazônia nas ações de combate ao garimpo e à extração de madeira ilegais, à grilagem e ao desmatamento.

Com experiência em dezenas de investigações, o delegado explica como funciona o modo de operação de madeireiro que atua ilegalmente. “Primeiro, o cara chega, detona a madeira. A madeira paga o desmatamento que vai deixar a terra nua a ser grilada, mas o produto em si dá muito dinheiro”, afirma.
 
“Por que a madeira está dando muito dinheiro?”, questiona, para responder: “Porque o mercado internacional era dominado pelos países do sudeste asiático. Diversos artigos de pesquisadores japoneses atestaram que foi a madeira o motor econômico para a destruição das florestas naquela região”.
No Brasil, de acordo com o delegado, há ainda uma particularidade em relação à grilagem.
 
“O sujeito grila, tem um esquema no Incra ou no órgão estadual, mas não vai plantar ali. Vai usar a terra que ele documentou de forma fraudulenta como garantia em um banco público dizendo que ele vai plantar soja, plantar gado. Passado um tempo, ele não plantou nada”, observa.

Segundo Saraiva, por meio da ciência e de metodologias específicas, é possível rastrear a madeira, diferenciando-a por região do país, por exemplo.
O delegado também diz também que os supostos crimes de Ricardo Salles ocorreram após a Operação Handroanthus, da Polícia Federal, apreender 213 mil metros cúbicos de madeira ilegal na divisa entre Amazonas e Pará, no fim do ano passado, no valor de R$ 130 milhões.
 
Foi a maior apreensão de madeira ilegal da história do país.
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